25 agosto 2010

b i c h o

o bicho acorda
grita
fica cego e se irrita
esperneia
sem porque

o bicho chora
lágrimamarga
seca
transborda
sem saber

o bicho bate
palavras grandes
soca, chuta
fere
sem sentir

o bicho foge
se esconde
dele mesmo
suga
sem querer

o bicho dorme
sonha
pesadelos insanos
infantis
sem acordar

o bicho bom
é malvado
mau doutrinado
mudo
sem predicado

o bicho é meu
é do mundo
bobo inconformado
sozinho acompanhado
sem dor

sem culpado

sem cor

despudorado
desbocado
domesticado
desculpado

meu
eu
o bicho é meu...

não troco nem por um trocado. ( )

08 agosto 2010

P a i

não sei bem seus costumes
suas preferências
sua melhor cor, idade, religião

o acaso logo causou
o teto diferente
um tanto quanto ausente

um pouco de solidão

não sei aonde me perdi
aonde se perdeu
aonde nos ganhamos

nosso (des) elo não foi programado
escolhido
premeditado

vazio (des) ocupado 

mas hoje somos
mais do que ontem
menos que amanhã

a g o r a

quero dizer
o que meu peito precisa
sem memórias perdidas

que minha base é preenchida
de um pouco de mim
e tanto mais de você

que sempre lutou pelo seu
mesmo sem ter pro nosso
nesse incansável conceber

tenho casa, pão, labuta
minha perseverança disputa
um lugar próximo ao teu

posso dizer, meu pai
que de todos percalços dessa vida
sua presença é sempre bem vinda

é importante amar você. ( )

06 agosto 2010

m o y a














ela é um furacão
onde passa deixa brisa
vento quente que gela a espinha
sopro que vem aquecer

ela é vida
seu sangue corre colorido
curtinho, leve, solto
de norte ao infinito

ela é linda
a miragem que não deixa esconder
contínua, intensa, breve
flor que vem florescer

ela é do mundo
a terra é redonda demais
a galáxia extensa de menos
continentes atravessados

ela é saudade
presença ausente constante
um repente num segundo
impossível de esquecer. ( )