As coisas por aqui não são muito fáceis sem você.
Desde que partiu sem data de regresso tudo ficou um pouco vazio...superficial.
Seus pertences estão intactos. Seu espelho continua brilhando. Sua cama ainda é branca e seu armário guarda bilhetes pequenos e felizes com papéis hoje um pouco amarelados, descolando nas pontas.
Suas roupas não seguem mais a moda, mas eventualmente se modernizam.
Seus amigos amadureceram. Alguns até demais e já não retornam às reuniões festivas dos sábados de jogatinas.
O mundo se modificou. As pessoas não conversam mais. Pouco se olham. Inventaram a internet para que esse contato se encerre e se estabeleça a desordem dos desenganos.
Os pombos-correio se aposentaram. As mulheres se rebelaram. Os maridos se calaram. O globo está de cabeça para baixo.
Quando voltar, se um dia ainda tiver vontade de voltar, irá sentir muita diferença do tempo que permanecia serena nesse povoado acolhedor.
Irá sentir muito frio e muito calor. A neve está derretendo e o sol congelou. O mar não está mais batendo e os rios estão cobertos de peixes...boiando a discórdia apodrecida.
Mas seus filhos sobreviveram. Permanecem intactos em seus mundos paralelos. Eles não se abalam e o céu pode cair aos seus pés que ainda será carnaval.
A única que ainda escuta rumores é a minha ilusão. Penso todos os dias naquela tarde chuvosa e calorenta, povoada de pouco espaço e preenchida de escuridão.
Voltarás?!
Não me leve à mal...não quero ser responsável por proporcionar um bloqueio em seus planos celestes.
Por aqui não existem mais seres de nossa espécie. Eles evoluem, casam, descasam, se arrastam sobre a correnteza errante e caem na mesma célula. A que gerou nosso desengano.
Já que não volta, espera por mim?
Penso que ainda tenho compromissos inadiáveis por aqui, mas as necessidades me consomem e a ansiedade me aflige.
Sinto sua falta.
Você é a única que me escuta, e no entanto, não posso te sentir.
A contradição entre o toque e o desapego me corrói por inteira.
Escrever é o meu maior remédio...soluçar é minha única opção.
O silêncio me preenche e sufoca meus sentidos.
Sua ausência me esvazia. Sua referência me motiva. Sua hitória me faz querer ser alguém que nem sei. Alguém melhor do que sou. Que não conheço. Que vou me orgulhar de ser um dia.
Até sempre.( )