31 março 2010

"click"

De repente todos os porquês somem e dão espaço ao
Por quê não
Todas as portas fechadas viram
Passagem
Todo não vira
Certeza
Toda dúvida vira
Consentimento
Todo desencontro vira
Ocasião

Desaparece o medo
Surge o sorriso
Foge o pranto
Seca o espanto
Muda o som
Troca o ruído
Volta o chão
Cresce o sentido
Nasce a luta
Adormece a conduta
Permanece a vida

De repente você acorda
Decide não se acostumar
Desiste de  desistir
Esquece de esquecer
Começa a viver

"click"! ( )

25 março 2010

BoBices de BoBos aBoBalhados














 Bobo é aquele que ri à toa
que não pensa no que diz

Bobo é aquele que não se entende
que sem saber se faz entender

Bobo é aquele que sente
que se emociona com a vida dos outros

Bobo é aquele que chora
que vive o hoje e o agora

Bobo é aquele que abraça
que esquece do tempo sentado na praça

Bobo é aquele que beija
que morde os lábios e quebra os dentes

Bobo é aquele que volta
que joga as pedras e não perde o caminho

Bobo é aquele que escuta
que fala muito e se cala

Bobo é aquele que sonha
acordado

Bobo é aquele que se irrita
que bate o pé e grita

Bobo é aquele que ama
que abre os olhos e deita na cama

Bobo é aquele que é feliz
que faz bobices abobalhadas para alegrar uma atriz. ( )


23 março 2010

consonância X dissonância


aquela felicidade poderia durar uma noite inteira
aquele lamento cessaria na quarta-feira
ecoaria no domingo
com trilha sonora de chorinho e sonoridade de fim de tarde
cheirando à molho de tomate

o aprendizado seria ligeiro
a pouca idade carrega uma longa bagagem
uma vida de (des)ilusões
de concreto sob cimento mole
queimando
derretendo
oscilando entre a sola e a borracha


a obstinação seria inevitável
o decreto confirmou a vulgaridade
sólido
líquido
espesso
macio
ácido
tórrido
nítido

não sabia se permitir
não se permitia receber
trocava de roupa de acordo com a temperatura da estação
antes mesmo de puir
antes do sol secar o frio
já não agradava a sua textura

a correspondência se tornou incorrespondida

a música se repetia
o tom não se alterava
a voz já não calava
o compasso se imortalizou
a partitura queimou os pés descalços
o som se solidificou

à meia taça
à meia luz
à meia lua
com meios ausentes
pensamentos inteiros
frequentes, recorrentes, dissidentes

evitara o irrecusável
e u
fugira do irremediável
t u
buscara o inalcançável
e l e
concluíra o infindável
n ó s

 se tornara mais Homus
desacreditado de sua espécie
exibira mais garras
atordoado por suas expectativas sutis
decretara mais taras
despovoado por sua própria presença


viver já não era primordial
acreditar parecia suposição
sentir se atrelava à objeção
sonhar, uma doce ilusão

amar...
...uma eterna questão. ( )

15 março 2010

gut



Porque ele me incentiva
me permite voar
Porque ele me proporciona
me induz a sonhar
Porque ele me alimenta
me envolve sem pensar
Porque ele me assegura
me sorri ao chorar

Meus dias se tornam mais quentes
minha solidão mais ausente
minha voz mais estridente
quando ouço o telefone tocar

Quero contar o meu dia
transbordar minha alegria
exibir minha coreografia
sempre que escuto sua voz a me ninar

Meu pai, meu chão, meu tio querido
o que seria de mim sem o teu contemplar

Meu exemplo, minha alma, meu maior amigo
quero viver ao teu lado até o sempre bastar. ( )

07 março 2010

Carta à Filhinha


As coisas por aqui não são muito fáceis sem você.
Desde que partiu sem data de regresso tudo ficou um pouco vazio...superficial.
Seus pertences estão intactos. Seu espelho continua brilhando. Sua cama ainda é branca e seu armário guarda bilhetes pequenos e felizes com papéis hoje um pouco amarelados, descolando nas pontas.
Suas roupas não seguem mais a moda, mas eventualmente se modernizam. 
Seus amigos amadureceram. Alguns até demais e já não retornam às reuniões festivas dos sábados de jogatinas.
O mundo se modificou. As pessoas não conversam mais. Pouco se olham. Inventaram a internet para que esse contato se encerre e se estabeleça a desordem dos desenganos.
Os pombos-correio se aposentaram. As mulheres se rebelaram. Os maridos se calaram. O globo está de cabeça para baixo.
Quando voltar, se um dia ainda tiver vontade de voltar, irá sentir muita diferença do tempo que permanecia serena nesse povoado acolhedor. 
Irá sentir muito frio e muito calor. A neve está derretendo e o sol congelou. O mar não está mais batendo e os rios estão cobertos de peixes...boiando a discórdia apodrecida.
Mas seus filhos sobreviveram. Permanecem intactos em seus mundos paralelos. Eles não se abalam e o céu pode cair aos seus pés que ainda será carnaval.
A única que ainda escuta rumores é a minha ilusão. Penso todos os dias naquela tarde chuvosa e calorenta, povoada de pouco espaço e preenchida de escuridão.
Voltarás?!
Não me leve à mal...não quero ser responsável por proporcionar um bloqueio em seus planos celestes. 
Por aqui não existem mais seres de nossa espécie. Eles evoluem, casam, descasam, se arrastam sobre a correnteza errante e caem na mesma célula. A que gerou nosso desengano.
Já que não volta, espera por mim?
Penso que ainda tenho compromissos inadiáveis por aqui, mas as necessidades me consomem e a ansiedade me aflige.
Sinto sua falta.
Você é a única que me escuta, e no entanto, não posso te sentir.
A contradição entre o toque e o desapego me corrói por inteira.
Escrever é o meu maior remédio...soluçar é minha única opção.
O silêncio me preenche e sufoca meus sentidos.
Sua ausência me esvazia. Sua referência me motiva. Sua hitória me faz querer ser alguém que nem sei. Alguém melhor do que sou. Que não conheço. Que vou me orgulhar de ser um dia.
Até sempre.( )

01 março 2010

mente.casual













ela pensa no pensar
nas horas de sono perdidas
nas teclas abreviadas

pausa

acende um cigarro
parou de fumar na semana passada
continua tentando verbalizar seus pensamentos

pausa

prepara um chá
maçã com canela
boa pedida para a queda de temperatura naquele fim de tarde
segue pensando, ouvindo seus próprios susurros surdos

pausa

o pensamento seca
sem nem hidratar os fios finos descoloridos
as unhas arranham a superfície áspera e quente
as mãos envolvem a outra ardentemente
sugere pensar em música
passos largos deslizam no descompasso desritimado

pausa

ela pensa demais
quando viver já terá pensado pensamentos tolos
bobos
atrevidos
exaltados

pausa

ela pensa de menos
quando sonhar já terá resistido e cessado a ansiedade
a covardia
a nostalgia
a juventude
a inquietude

pausa

o que ela será?
especialista em um pensamento
sonhadora generalizada
delirante depravada
sedutora obcecada
menina mimada
mulher atormentada
transeunte acelerada
amante amada


pausa

o pensamento virou poesia
dessas de se viver... ( )