21 março 2012

Entre

ela acorda, olha o relógio e ainda tem 15. vira de bruços, fecha os olhos e toca o despertador. acorda e abre o olho (necessariamente nessa ordem). vira de lado e levanta. joga uma água no rosto com pingo de pasta de dente e abre a porta do quarto. é lambida pelo calor escaldante do sol de 8 horas, 20 graus acima do seu leito e mesmo assim insiste no café preto. quente. lê o segundo caderno, o urbano dos quadrinhos, duas mortes do obituário e fecha a mochila. desce três lances de escada, 10 metros de ladeira e acompanha o seu ônibus ir embora e o motorista ignorar a sua presença gesticulada exacerbada por considerá-la fora da sua faixa de visão da boa vontade. toma um suco de laranja de olho no troco e no ônibus e fica feliz pois o seguinte tem ar condicionado. que se foda o anterior. senta na janela, vira pro lado oposto e fecha o olho até chegar no túnel. liga o seu ipod e abre suas anotações. pensa superficialmente no seu dia, se lembra dos tópicos pontuais e desce fora do ponto entre dois carros. olha pro lado oposto ao fluxo, percebe uma bicicleta e acelera o salto ao meio fio. pensa em voltar pra casa, em reverter o café, escolher outra calcinha e desiste dessa esquizofrenia recorrente, decidindo dar um passo em direção à rua sem saída, que finalizará o seu destino matinal. olha o relógio, percebe o atraso de 3 minutos, dentro da escala de 15 minutos de tolerância e acelera o passo. toca o interfone sem um botão, dirfarça a voz de sono e anuncia a sua chegada.
Entra. ( )