03 outubro 2012

29 de fevereiro de 1983

Não sei se lê o que eu escrevo.
não saberia dizer quando isso tudo começou. muito menos se isso vai ter fim um dia.
não consigo imaginar um dia diferente de todos esses até hoje. uma roupa dobrada corretamente no armário, um tênis fora do lugar...
a vida se estagnou.
esse histórico de atualizações foi modificado por muitas pessoas diferentes.
os objetos afetivos vindos de muitas regiões
álbum de infância preenchido por desconhecidos e como poderia ser diferente?!
essa hereditariedade é uma fraude
a herança é debitada a cada ano que amadurece envelhecendo, as manias foram tolidas, os quereres ignorados
mas estamos falando então de afeto, ok?!
ele permanece estagnado.
esperando a porta se abrir.
mas e quando não se tem porta e a única delimitacão que possui próxima de seus pés são seus próprios sapatos?
desgastados, poídos, rasgados.
quando seus olhos querem se fechar todas as noites na mesma hora
20 minutos depois de tomar a sua dose diária da tarja preta
servindo de desculpa imperdoável para tentar
esquecer os outros 20 anos de esquecimento.
então é hora de abrir?!
abrir o envelope
abrir a porta
abrir o peito
abrir o apetite
abrir o perdão
e quando a memória é inventada? ( )

21 setembro 2012



o vermelho que pinta
atravessando a borda delimitada
v a z a d a
de boca fina, de menina
que não sabe o que dizer
o contorno torto, arredondado
envolvendo o pêssego amaciado
de bochecha, de menina
que sorri sem saber por que
um lápis de colorir expressão
uma sombra de abrandar desilusão
d e l i n e a d a
verde-amarelada, sugerindo sucessão
limpando o que não tem traço azul
c e l e s t e
de olhar tímido, de menina
que enxerga sem ver
base pra cobrir a máscara
pó para a depressão
um punhado de cores em pele leve
, de mulher
pra gerar a ocasião. ( )

10 junho 2012

no meio do caminho
do meio
de canto sem ponta
no centro
do foco suave
no bloco espesso
de pedras soltas
no caminho do meio
de escolha livre
na certeza presa
do eixo
em ponto alto
no muro torto
de pegadas firmes
do meio
no caminho... ( )

21 março 2012

Entre

ela acorda, olha o relógio e ainda tem 15. vira de bruços, fecha os olhos e toca o despertador. acorda e abre o olho (necessariamente nessa ordem). vira de lado e levanta. joga uma água no rosto com pingo de pasta de dente e abre a porta do quarto. é lambida pelo calor escaldante do sol de 8 horas, 20 graus acima do seu leito e mesmo assim insiste no café preto. quente. lê o segundo caderno, o urbano dos quadrinhos, duas mortes do obituário e fecha a mochila. desce três lances de escada, 10 metros de ladeira e acompanha o seu ônibus ir embora e o motorista ignorar a sua presença gesticulada exacerbada por considerá-la fora da sua faixa de visão da boa vontade. toma um suco de laranja de olho no troco e no ônibus e fica feliz pois o seguinte tem ar condicionado. que se foda o anterior. senta na janela, vira pro lado oposto e fecha o olho até chegar no túnel. liga o seu ipod e abre suas anotações. pensa superficialmente no seu dia, se lembra dos tópicos pontuais e desce fora do ponto entre dois carros. olha pro lado oposto ao fluxo, percebe uma bicicleta e acelera o salto ao meio fio. pensa em voltar pra casa, em reverter o café, escolher outra calcinha e desiste dessa esquizofrenia recorrente, decidindo dar um passo em direção à rua sem saída, que finalizará o seu destino matinal. olha o relógio, percebe o atraso de 3 minutos, dentro da escala de 15 minutos de tolerância e acelera o passo. toca o interfone sem um botão, dirfarça a voz de sono e anuncia a sua chegada.
Entra. ( )

27 fevereiro 2012

mauá

se eu pudesse pintar..
se eu pudesse pintar o mundo seria de cor de azul anil. esperaria o mar se pôr e o sol secar, se eu pudesse pintar..
bateria palmas para o pôr do céu. jogaria grãos de granola pro casal que se descasasse por amor, seu eu pudesse pintar..
tocaria um repique de espelhos e admiraria o som da minha própria imagem. escutaria o silêncio. alcançaria o tom, se eu pudesse pintar..
se eu pudesse pintar..
deixaria tudo assim do jeito que está. ( )

08 fevereiro 2012

solta

de quando não se tem o que dizer e sentir é caminho único
ouvir é clichê
escutar é opção
os atrasos causados pela causalidade torturam a expectativa de insistência
permanecer...
objetivo (in)atingível
subjetivo
o suspiro fraco toma força e vira tosse
posse impotente
descrente de crendices
tolices soltas
maluquices sóbrias
explosão inclusa
a espera provocada pela ansiedade quebra o protocolo da abstinência
objeção
obstrução 
constituição falida
residência trincada
trocada
tolida
esperada com distante presença próxima
ponto de vista
água e coca-cola
diet light gorda
prova (des)crente
o sol levanta às seis o domingo finda às oito e o apego...
(des) A pega.
( )