26 dezembro 2009

eu, magrela


elas eram as únicas ...
singelas sobreviventes ...
naquele fim de tarde de natal
as casas ainda cheiravam a peru e frutas secas
o barulho dos papéis de presente ecoavam sobre as folhas das palmeiras
em outra ocasião estiveram acompanhadas de um anjo cuidadoso
mas hoje eram só elas duas
deviam dialogar pelas pedaladas seguintes
aro girando, marcha leve e um tapete cinza estendido só pra elas
unidas por um propósito
vítimas de abandonos hereditários
Ganhar o mundo era pouco...
elas queriam descobrir o que não era pra ser revelado
desfrutar do que não podia ser desperdiçado
andaram lado a lado por um bom tempo
recordações, memórias, vivências
coração acelerado
subitamente o desejo se transformou em necessidade
queriam ser uma só
caminhar juntas, desvelar segredos
trair a solidão com a presença sentida
descobrir os caminhos de pedras e os percursos macios
corpo tremido
desequilibrado
foco desfocado
paralelas curvas, curvas tortas
direita, esquerda, direita
Freio
peso parado, de lado
pés no chão
os segredos ficaram pequenos e o tapete cinza não tem mais fim
os fios sobressalentes fazem cócegas na ponta do nariz
é o início do começo


Ganhar o mundo era pouco... ( )








24 dezembro 2009

vazio ocupado


Fim de ano
necessidade de compartilhar..
pai
mãe
tia
família reunida
confraternização
aliança
comes
bebes
presentes
presença sentida
união de ideais
promessas...
promessas...
promessas...
a necessidade de estar supera a vontade de ser
ser mais
ver mais
sentir mais
ouvir mais
quero mais família reunida
mais presença sentida
a necessidade de ter supera a vontade de existir
o vazio ocupa muito espaço
o silêncio ensurdece o ambiente
a multidão esvazia a alma
e a família continua unida
Re Unida
unida pela necessidade de estar, ser, ter e existir
promessas...
promessas...
promessas... ( )

21 dezembro 2009

(só) (rir)

Hoje eu acordei sorrindo
sorriso sincero
íntegro
repartido
sem escova de dentes
Segui o meu dia sorrindo
sorriso medroso
inconstante
incompreendido
com um sopro de alívio e uma pitada de tensão
Quero passar as próximas vidas sorrindo
sorriso insípido
incalculável
remediado
acompanhado de um
de mim
sorriso unitário
de uma boca só
só...rir. ( )

19 dezembro 2009

Dito


eu queria dizer
queria...não quero mais
já quis muito
não consigo querer continuar querendo te dizer

dizer dói..
dor física..
começa no peito e termina
no calcanhar
dói do começo ao fim

dói o medo..
medo das palavras
da reação sobre a ação
da expressão de pavor

pavor do pânico
pânico do preto
medo do branco
seco. ( )

18 dezembro 2009

Moças

Esse curta foi gravado em julho desse ano e será exibido nesse Domingo, dia 20!
Foi escrito por Deborah Wood e Hugo Leão e o Roteiro e Direção é de Matheus Faro.
Com Bruna Savaget e Lara Gay


16 dezembro 2009

encontros desencontrados




eles viveram juntos
toda vida
mas toda vida era vida demais para eles
toda vida
era vida pequena pra tanto querer
A vida se encarregou da despedida
a despedida iniciou um elo
uma aliança sem meio e fim
o tempo
os dias
o sol
as fases da lua
o vento
os signos
aniversários menos povoados
natal sem garfo e faca
casa sem cores...pintaram tudo de branco
mas o preto continua entre eles
vivo, colorido, molhado, peludo, lambido
a coroa de flores secou
e o silêncio ensurdece
esmaga
esfola
escapa
foge a menina do seu destino
foge o garoto do seu amor
fogem os dois de seus guias
pra tentar encontrar em outras luzes, luzes próximas, que lhes aqueçam nas noites claras de uma lua qualquer.. ( )

13 dezembro 2009

..grito surdo..



quando não se tem mais forças para gritar
para cuspir
soprar
grunir
esperar
ouço uma voz
essa voz fala de amor, de dor, medo, mágoa
palavra lançada
cautela
ansiedade
tensão
calmaria
o grito foi lançado no espaço e emudeceu
ficou surdo
sem cor
tato
toque
pulso
leve
claro
flutuante
o grito ficou roxo
vermelho
dourado
sem cor
sem amor
em desespero
o grito virou dor
não volta mais
já feriu o espaço
as esferas
as donzelas que passeiam ao entardecer
o grito virou sonho
se transformou em nuvem
passageira
densa
oca
sem cor
macia
espessa
sem dor
amortecendo o impacto do pulo
pulando os obstáculos do som
o grito virou música para os meus ouvidos
não me aborrece mais
me aquece
me motiva
amadurece
ainda entristece
e me faz viver mais..( )

07 dezembro 2009

Santa Flor Mulher

eu vejo
sinto
escuto
ouço falar
perguntas
respostas
questionamentos sobre mim mesma
lugar comum questionar quem sou
copiar interrogações
plagiar interrogatórios
vivenciar descobertas já vistas
re-descobrir
re-dimensionar
re-significar
re-viver
comemorar
homenagear a chegada sem pensar na partida
viver a partida de quem nunca veio
a despedida de quem nunca foi
eu vejo
sinto
escuto
ouço falar de uma menina que quer ser bailarina
que quer escrever poemas
e pintar castelos com torres, muitas torres
e correr pelos campos floridos
e escalar a mais alta montanha
e comer cada fruta do pé
e ouvir cada canto do vento
e chorar pelo amigo que está perto
e sorrir pelos que sofrem com a função de sorrir somente
e dar para receber
e dar mais do que receber
eu vejo
sinto
escuto
ouço falar em flores
flores santas
flores que têm histórias pra contar e não tem nada a esconder
flores que sentem cores
cores que sentem amores
amores coloridos, floridos
amor de menina
de menina flor
de flor mulher
de mulher santa
de santa flor
de flor santa
de Santa Flor Mulher.(  )