28 janeiro 2011

Querido

veja bem...
não sou menina para forjar um choro
tampouco mulher de esconder
gosto das coisas esclarecidas
deixo palavras soltas no ar
interpretação é ponto de vista
querer menos é de lamentar
o preto pode ser branco e até violeta
mãos e pés podem se chocar
medo faz parte do entendimento
paixão é sentimento que pode esperar
mas o cuidado...é coisa que aprecio em conservar

se for seguir, me chama
se for parar, deixa eu me adiantar. ( )

25 janeiro 2011

a guerra

tenho medo dessa guerra..
que coleciona corpos
aprisiona opiniões
corrói vidas breves em longas torturas
marca o peito  frio, enfraquecido
 essa guerra inconstante..
de ego e pudor e rancor
que transforma sonho em pó
amor puro em lenda sóbria
melodia em ruído de dor..
guerra que emburrece..
embrutece sentimentos
negligencia sensações
transforma flor em fuga
vermelho em preto-acinzentado
e afasta...
quem tanto queria se querer. ( )

14 janeiro 2011

último do primeiro

levantou às seis, como era de costume
colocou o chinelinho azul
deu comida ao pássaro amarelo
comeu o mamão papaia-alaranjado

abriu a janela e respirou o amanhecer
era o seu dia...

recebeu visitas queridas
ganhou votos acolhedores
comeu bolo com refrigerante e amor

sentou na varanda e suspirou o entardecer
era o seu dia..

releu cartas e sorrisos
ouviu som e silêncio
caminhou entre o verde e a saudade

deitou na cama e adormeceu o anoitecer
era o seu dia.
o último
do primeiro. ( )

13 janeiro 2011

nó.

‎..pela desordem do mundo, pelas pessoas que partem, pelas que ficam e sofrem com as partidas, pela ausência de vidência, pelo embrulho no estômago, pelo cansaço do peito, pela esperança desalinhada, pelo pão duro dormido, pelo punho enfraquecido, pela carência de afeto, pela falta de apego, pelo chão seco, pelo trigo vencido, pelo amor não correspondido, pelo soluço constante, pelo susto proposital, pelo excesso de querer, pela falta de porquê, pelo sentimento morno, pelo carinho insosso, pelo jantar sem almoço, pela satisfação burra, pela ignorância nula, pela curiosidade crua, pelo chá amargo de fim de tarde, pela chuva, pelo vento, pelo relento, pelo frio, pelo caos, pelo tapa na cara e pelo descaso pobre da cegueira embrutecida do bicho-homem irracional, que transforma luz fria em sombra quente, que consome seu próprio veneno e morre com a sua própria solidão. ( )

09 janeiro 2011

gente..

gente..  é povo complicado

termina antes de começar
afasta antes de aproximá
limita antes de acontecer
e foge... com medo de se querê

gente..  é povo esquisito

sai de fino aflito
com nó de vazio preenchido
sapato na mão pra esquecer
e chorar... sem doê

gente..  é povo aquecido

do cheiro que fica
da pele macia
suada mordida
colada... fazendo fervê 


gente..  é povo querido

que se emociona sem perceber
que fala alto e não escuta
que o sol não queima  nem seca
.. só faz vermelhecê. ( )