28 dezembro 2010

aiê oxum

 o dia era de agradecer
toque das águas
aquecer das pedras
presentear das trilhas

o caminho era só de subir
passo em falso atento
sorriso apreciado
chão, som, o sol escondido

um olhar inquietado
curioso
revelado
correspondido

 água viva para refrescar
pra conhecer
agraciar..

o dia era da noite quente
da pintura na tela revelada
do movimento imóvel interpretado
suado

chuva fresca para avivar
pra conhecer
agraciar..
( )

24 dezembro 2010

..de pilha.

..a janela estava aberta, e isso era raro pois a poeira da obra da fachada irritava suas narinas desprovidas de filtros à prova de poeira-fina.
mas o sol estava tão tentador...depois de uma semana de frio, chuva e ausência de luz natural...que a janela se abriu com o consolo de receber, em meio à poeira dos operários desajustados, um foco de brisa...uma faísca de vento...um facho de aquecimento.
em meio ao som ensurdecedor de repiques de martelos, agudos de britadeiras, chacoalhar de pedras soltas caídas ao chão...vinha um som...um som familiar e um tanto quanto desconhecido...um som apropriado de esquecimento conduzido...um som agradável aos seus ouvidos...som bom...só...som.
uma sanfona talvez...tons próximos...palavras frescas...secas...descascadas.
ela arriscou olhar pela janela para procurar de onde vinha aquele som...e, ironicamente, vinha da mesma origem sonoro-poluidora dos operários inoportunos...um radinho de pilha...de pilha.
em meio a toda aquela desordem de gesso, massa e entulhos...parecia que se formava uma serenata para aquela janela...
lixos e retalhos compunham aquele cenário já não mais desconhecido...
era sim...uma serenata...em plena luz do dia...e do calor abafado...e da ausência de músicos e poetas...
só ela e o radinho de pilha...eles se bastavam...
apoiou os cotovelos ressecados no peitoril empoeirado...e contemplou o seu presente imposto pela sua própria imaginação manipuladora. ( )

22 dezembro 2010

romã

o ano passou arrastado e ligeiro..

teve inverno de verão
folha seca de primavera
teve flor que desabrochou
de fina pétala
caule firme
raiz atrevida
folha leve

o ano passou forte e rasteiro..

teve tempestade de furar tempo
brisa fresca pra consolar
teve sol sombra susto escuridão
teve som sonho colo solidão

o ano passou..

teve um, teve dois
teve eu
procurando mim.
teve nós
encontrando sós
teve flor
buscando jardim

passou..

ficou a flor
seguindo
sorrindo assim..
( )

16 dezembro 2010

Era uma vez...

Era uma vez a menina
ela queria mexer o corpo
entender seus limites, pesos, cristas e planos
Era uma vez o passarinho verde
ele queria desenhar cores
lento e forte, leve e contínuo
até ficar grande-alaranjado
Era uma vez dois olhinhos curiosos
vocação, foco e persistência
Era uma vez a maria
clandestina, sorridente, feliz
Era uma vez a má-menina
voz no chão, pés abertos, pesado direto
Era uma vez a aluna
aprendendo a ser atriz
Era uma vez a professora
descobrindo ser feliz. ( )

02 dezembro 2010

BeneDito

Ele disse que suas mãos curam
a energia se propaga
as vibrações se aproximam
a dor vira luz
Ele disse que você pode ser tudo na vida
percorrer seus caminhos
pisar firme no chão
voar sem limites
Ele disse que você receberá calor
o colo para se apoiar
o ombro para chorar
o olhar para sorrir
Ele disse que sua vida não é ilusão
porém a desilusão tomará parte
o vazio estará presente
o amor, por vezes, ausente
Ele disse que você pode vencer
algumas vezes...
menos que o insuportável
mais que o impossível
Ele disse que você deve viver
a desordem dos desenganos
o fracassar dos planos
o limitar dos sonhos
ainda assim, viver
a esperança das horas
o desfrutar do tempo
o lutar do esquecimento
Ele disse que você deve sorrir. sempre. todos os dias. por todas as suas vidas. ( )

24 novembro 2010

dia Seu
















era o dia dela...todinho seu...um ano novo...
resolveu conversar com o mar...sua mãe era daquelas bandas e no seu dia oferecia presentes de povos distantes e povoados aproximados...
mas ela não foi receber presentes...não entendia por que as pessoas esperam ganhar no seu dia...ela não queria ganhar nada...
só queria contemplar...e ao contemplar ganhava mais do que podia ter...
se tornava.
por vezes intuia pensamentos de natureza enfraquecida...tinha medo de sentir pena de uma luz que busca a própria luz em seu maior dia de luz na maior fonte de luz...sozinha.
tinha receio de sonhar sozinha.
o diálogo entre ela e o mar durou uma tarde inteira...o dia foi povoado de espaço preenchido...e brisa leve.
constatou que esse era o maior presente do Seu dia
ela mesma.
voltou pra casa suspensa...
sorriu.
a maresia ocupou o seu quarto e o tempo passou devagar... ( )

18 novembro 2010

passo..

já passou a chuva
o frio
o sono
o choro

já passou o sol
a primavera
a brisa
o furacão

já passou a dor
a guerra
o ódio
o desamor

mas o tempo...

esse custa a passar

a saudade...

essa teima em ficar. ( )

09 novembro 2010

um pouco do muito

perder...
o sono
o tônus
o juízo
o caminho de volta

perder...
você
nós
ele
a saudade sem doer

perder...
a consciência
a permanência
a inconstância
um pouco de si

perder...
o amor
a dor
o pavor
uma tarde de domingo

perder...
e ganhar.
sonhar talvez... ( )

02 novembro 2010

dór

o chão se esconde e você pisa leve
aponta firme o teto móvel, desequilibra no fio flácido
respira o ar abafado, engole o nó atado
chora..
dorme para lembrar dos sonhos reais
acorda para não ouvir os sinos estridentes do peito ausente
permanece intacta, impotente de atitudes impensadas
some..
controla palpitações involuntárias
antecipa dizeres do peito
retarda sentimentos negligenciados
fere..
a si mesma.

28 outubro 2010
















a Lua me achou
iluminou minha noite
e todos os dias

a Lua ficou
ultrapassou suas próprias fases
nova lua crescente lua minguante lua cheia ...

a Lua se encheu de escuridão
sem coelho
sem dragão

a Lua se perdeu
virou estrela
cadente

me perdi. ( )

04 outubro 2010

sem título

tocou a campainha como não era de costume
entrou como um furacão
forte, firme, surdo
juntou todo pouco que tinha
esvaziou todo muito que restava
firme, forte, mudo
apontou meus erros
cuspiu meus enganos
abandonou meus planos
cego, firme, forte
as gavetas foram preenchidas de um vazio incomum
a felicidade ficou suspensa
a b a f a d a
paredes tortas
coloridos opacos
máscaras tristes
m u d a s
a porta fechou
a luz apagou
a maria murchou
a violeta chorou. ( )

16 setembro 2010

Angel


  Mulher de garra
coragem
pulso firme
pé no chão
mãe, esposa, professora, protetora
alma iluminada
questionou o inquestionável
revoluvolucionou o casual previsível
descobriu o corpo de cada um
em grupo
formou multidão
formula opinião
codifica a prática
de praticar o ser
único
intranferível
i  n  d  i  v  i  d  u  a  l
perdeu os seus
multiplicou os nossos
dividiu o eu
em um e outro
espaço aberto
t r i d i m e n s i o n a l
infinito
cotidiano
casual
sistematizou tecnicamente o método do trabalho
anatomia
evolução
ser um ser
apoiado nos ossos articulados de peso
e  s  t  r  u  t  u  r  a
experimentação
ação, aqui, agora
presente
ela vive para mostrar o hoje que vira amanhã todos os dias
pele
punho
mãos que agarram dedos
pai
filho
mãe abençoada
Angel afeta
m  o  d  i  f  i  c  a
reformula formas
transforma nuvens em movimento
movimento em dança
dança em expressão
expressão em arte
arte em gente
gente...em Gente! ( )

14 setembro 2010

A maior história de sua vida: Amor


o roteiro estava traçado
o casamento aprovado

Terno Tênis
Chinelo Corselet
o mais Belo Bouquet

o cenário foi escolhido
o itinerário preferido

desses impossíveis de esquecer

um casal de dois
uma testemunha ocular
e tantos outros presenteados a contemplar

a união se concretizou
uma foto comprovou
o beijo, o laço, o amor

  a Paris abençoou. ( )

13 setembro 2010

suspenso



os pés tocam o chão
mas não conseguem senti-lo

os pés afundam no chão
mas não conseguem respirar

l  e  v  i  t  a  m
mas não conseguem alcançar

os pés respiram
e voltam para o seu lugar. ( )

25 agosto 2010

b i c h o

o bicho acorda
grita
fica cego e se irrita
esperneia
sem porque

o bicho chora
lágrimamarga
seca
transborda
sem saber

o bicho bate
palavras grandes
soca, chuta
fere
sem sentir

o bicho foge
se esconde
dele mesmo
suga
sem querer

o bicho dorme
sonha
pesadelos insanos
infantis
sem acordar

o bicho bom
é malvado
mau doutrinado
mudo
sem predicado

o bicho é meu
é do mundo
bobo inconformado
sozinho acompanhado
sem dor

sem culpado

sem cor

despudorado
desbocado
domesticado
desculpado

meu
eu
o bicho é meu...

não troco nem por um trocado. ( )

08 agosto 2010

P a i

não sei bem seus costumes
suas preferências
sua melhor cor, idade, religião

o acaso logo causou
o teto diferente
um tanto quanto ausente

um pouco de solidão

não sei aonde me perdi
aonde se perdeu
aonde nos ganhamos

nosso (des) elo não foi programado
escolhido
premeditado

vazio (des) ocupado 

mas hoje somos
mais do que ontem
menos que amanhã

a g o r a

quero dizer
o que meu peito precisa
sem memórias perdidas

que minha base é preenchida
de um pouco de mim
e tanto mais de você

que sempre lutou pelo seu
mesmo sem ter pro nosso
nesse incansável conceber

tenho casa, pão, labuta
minha perseverança disputa
um lugar próximo ao teu

posso dizer, meu pai
que de todos percalços dessa vida
sua presença é sempre bem vinda

é importante amar você. ( )

06 agosto 2010

m o y a














ela é um furacão
onde passa deixa brisa
vento quente que gela a espinha
sopro que vem aquecer

ela é vida
seu sangue corre colorido
curtinho, leve, solto
de norte ao infinito

ela é linda
a miragem que não deixa esconder
contínua, intensa, breve
flor que vem florescer

ela é do mundo
a terra é redonda demais
a galáxia extensa de menos
continentes atravessados

ela é saudade
presença ausente constante
um repente num segundo
impossível de esquecer. ( )

14 julho 2010

"mim"



 Todos os dias ela acordava e procurava por eles...mas nunca encontrava.
Escovava os dentes sem  saber a posição certa da escova em relação à gengiva. De tanto não saber, sua boca sempre sangrava.
Sentava na mesa para tomar café, mas o pão estava sempre dormido...o nescau, já misturado.
Esperava o ônibus da escola e sua mochila pesava nas costas...mas ela teimava em não apoiar no chão.
Escutava a professora, e seus ensinamentos padronizados, não se igualavam à sua vida desconexa.
Voltava para casa no fim do dia, com o pretexto consolador de um cansaço exacerbado, para não precisar ouvir a sua própria voz na mesa de jantar.
O dia passava todos os dias, sem nenhuma perspectiva de mudança.
A falta de imagens codificadas era tão grande que ela já quase não enxergava a sua, refletida no espelho.
Em momento algum questionava a ausência que sentia.
Se ateve à sua conformidade e seguiu o curso, arduamente natural, de sua vida artificial.
Eventualmente recebia notícias de uma existência, mas não passavam de informalidades.
Formalmente, a sua opinião e temperamento foram se transformando em casos de ausência, irreversíveis.
A sua ausência estava começando a atingir o limite do suportável...as consequências eram notórias...as reações repulsivas.
Começou a questionar: Por que?
Por que não havia resposta para perguntas tão simples?
Por que não haviam perguntas à altura de uma resposta incoerente...incabível...deprimente.
O descaso tomou conta de sua juventude, e sua fase adulta foi marcada pela fuga dos acontecimentos.
Ela se projetou em lugares, menos frios e, ligeiramente, acolhedores.
Se submeteu a confiar em estranhos sinceros, que eram bem mais confiáveis que os conhecidos ausentes.
Passou anos vivendo em um reino distante do seu.
Incomunicável, inatingível, sorridente, insoletravel...
Percebeu que nunca tivera reino nenhum.
Sua casa era ela mesma. Seu corpo era seu abrigo. Suas palavras, seus cômodos. Seus sentimentos eram aquecimento.
Começou a viver, assumidamente, e agora, propositalmente, só para ela. Só havia uma imagem no espelho: o traçado oco de uma figura sem conteúdo.
Os conteúdos preenchidos de vazio, não eram mais admitidos por sua tolerância.
Ela se cansou.
Quem era ela hoje?
Uma menina, que continuava a traçar sua vida sozinha, continuava não questionando, continuava negando suas possibilidades de garfo e faca na mesa.
Uma atriz, condenada a ser personagem de sua própria vida ilusória e inquestionável.
Uma coadjuvante, buscando diariamente, ser atriz principal de sua própria história.
Uma mulher, cansada de ser ausente de si mesma.
Uma pessoa, buscando a felicidade.
Uma alma, buscando luz. ( )

11 julho 2010

eNamorada

De um abraço
um toque
um desvio de olhar

na multidão acelerada
a mulher embriagada
encantou-se pelo seu andar

o sorriso aberto
um comentário indiscreto
e uma lambida para chocar

poesias clandestinas
flores repentinas
teimosia para conquistar

o casual se tornou real
a dúvida virou problema
a certeza trouxe o dilema

o encontro se encontrou

o povoado virou um
um e dois
e ninguém mais se opôs

tudo perdeu o sentido
quando o sentimento
tomou o seu lugar

a casa colorida se abriu
a flor de pitanga não resistiu
a noite chegou sem a ausência atormentar

os dias demoraram a passar
o hoje virou presente
a solidão esqueceu de se apresentar

o vazio se ocupou
a vira-lata se apaixonou
a violeta se permitiu amar. ( )

20 junho 2010

..um dia de parque..


















Era só mais um dia de parque
mas os fachos de luz atravessavam as folhas
penetravam a pele

Era só mais um dia de parque
mas a toalha estava farta
os doces alimentavam as flores

Era só mais um dia de parque
mas o coreto estava preenchido
as músicas registradas

Era só mais um dia de parque
mas os pés tocavam o rio
o espelho refletia movimento

Era só mais um dia de parque
mas o caminho de pedras tortas
equilibrava as pernas longas

Era só mais um dia de parque
mas os olhos eram sorrisos
as mãos se encontravam

Era só mais um dia de parque
e o dia não precisava de mais nada...( )

14 junho 2010

A Grande Família

A família era grande
o coração maior ainda
mãe, irmão, sobrinho, prima, tia
energias desencontradas que se encontravam
em uma cozinha espaçosa
 a  c  o  l  h  e  d  o  r  a
 o frio gelava o nariz
a presença esquentava o peito
muitos "erres" sobressalentes
ressaltavam o amor presente
 u  n  i  ã  o
 dessas poucas de se ver
dessas difíceis de se ter
dessas muitas de se querer
que fazem três dias de convivência
abrandarem a presente ausência
de um elo esquecido

  A família era grande
mas deixava a sensação
de que sempre cabe mais um
onde o calor vai além do contato
o beijo vale mais que a palavra
a saudade cresce sem sufocar
o olhar permanece sem a distância atrapalhar

Depois de 10 horas de estrada
de cobertores aquecidos
de olhares percebidos
de valores estabelecidos
..restaram..
as truffas de morango
a bochecha corada
as risadas sem fim
o sentimento presente
os bocejos recorrentes
o coração alargado
os dois
voltando juntos
acompanhados. ( )

31 maio 2010

Será que eu posso?!

Entrar na sua vida
causar uma revolução
te deixar de pernas viradas, torcidas
esperar sem despedida
pegar na sua mão

Cochilar no seu colo
sentir o seu peso
chorar escondida
voltar resolvida
me recompor pra te ver

Acender um cigarro
beber o último trago
degustar a entrada
sair sem pagar a conta
te esperar pra jantar

Andar pelada nas ruas
me encantar com frases tuas
suportar a ausência de acentos
sufocar meus sentimentos
acordar sem dormir

Fazer piadas sem graça
sentar sozinha na praça
jogar fora meus desenganos
compartilhar meus planos
inventar histórias que te façam sorrir

Tomar banho de porta aberta
ser cautelosa, discreta
desafinar no chuveiro
me entregar por inteiro
sentir saudade sem partir

Viver hoje  todos os dias
beijar sua boca sem parar
te admirar sem piscar
querer o amanhã sem culpa
me apaixonar por você.

Posso querer?! ( )

21 maio 2010

Conto Real











Ela achava que não devia
que se arrependeria
que sorria com os dias contados
Sua mãe sempre alertava
indagava
subestimava sua capacidade de sentir
jogava o seu balde de pedras quentes em sua pele fria
petrificada pela vivência
do corpo aquecido pela ausência solidificada
Ela devia desistir?
sair
sumir
jogar fora o sorriso e dar lugar à imprecisão
precisa
Ela precisava esquecer?
sofrer
adormecer
não se deixar envolver
almejar acordar no conto de fadas que nunca desejou
Cansou de desejar
esperar
vibrar
"Os príncipes não existem mais", sua mãe dizia
e as princesas desistiram de dever...
se tornaram bruxas desacreditadas dos sapos encantados
se contentam com desencantos
se alimentam de chocolate
amargo
cortam seus cabelos para trançar a desunião
se esquecem de dormir à meia noite
de calçar sapatos de vidro
de cantar para encantar o mar
se perdem de si mesmas no meio da floresta
se alimentam de frutas vermelhas envenenadas pelo excesso de querer
desistem de acordar
sonhar
desencantar o descontentamento
Ela iria ouvir?
acatar
executar
profetizar os conselhos desajustados
de uma mãe ausente de encanto
Ela não acreditava em príncipes
nem fadas
nem princesas
nem sapos
nem castelos de vidro..
Acreditava no Conto
no seu conto
Real
e se encantava com sorrisos
de pessoas presentes
bobas, sorridentes, encantadas. ( )

15 maio 2010

virtualmente palpável

a poesia se sustenta
suporta o peso de sentir
aumenta a vontade de querer
ilude a sensação do existir

a palavra que se escreve quer dizer
a voz desmente
o toque surpreende
o encontro promete prometer

o desejo evidencia o impulso
a coragem acompanha o olhar
invade o espaço
corrói a ilusão

ser um ser
viver o hoje
sustentar a decisão
vida. dupla. elo. só. somente. só.

personagem da vida
palpável
personagem da vida
virtual

qual delas é real? ( )

09 maio 2010

Naquela manhã o telefone tocou como nunca tocara antes...Do outro lado da linha a voz, leve, contínua e firme se pronunciou:

- Estou partindo. Na verdade, já parti. Não sei se percebeu...A bola caiu...

A bola sempre cai, se não tivermos a rapidez de receber...e devolver.

- Sou especialista nesses jogos de rapidez. Demorei muito tempo para aprender. Venho treinando ao longo desses anos.

Esse jogo requer querer...querer poder...poder querendo...podendo perder.
Se trata de um jogo simples: basta jogar. Agarrar. Reagir. Retribuir.
Sonhar.
Sonhar com os olhos abertos.
Nunca se sabe quando a bola vai chegar. Tem que estar preparado para arremessar.

E a voz leve, forte e contínua virou movimento: Direto. Acelerado. Breve. Pesado.

- Vou jogar bola por aí. Bater na testa e sorrir! ( )

25 abril 2010

..3 da manhã de sábado às 3..

sábado..3 da manhã..
sozinha no meio da multidão..escutando pouco..abrindo a janela..sentindo o corpo por inteiro..dividindo as (des)cobertas..encolhida na cama..procurando o ar..encontrando você mesma..acendendo a luz do banheiro..desistindo de compartilhar..esquecendo de desejar..desligando o ventilador..vivendo (sobre) viver..dormindo acordada..acompanhada de sensações..acertando o relógio..pensando no que não se pode pensar..revirando travesseiros..constatando que é melhor não estar..escrevendo pensamentos..ouvindo sons invisíveis..virando a cabeça..esticando o pescoço..torcendo o rosto..tremendo o peito..empurrando a porta..pra ninguém..fechando a janela..derrubando o vaso de flor..de plástico..sem dor..exercitando o toque..excitando o lápis com a mão quente..tocando o ventre..

..3 da manhã de sábado..
sozinha acompanhada..escutando o corpo..dividindo a cama..procurando você mesma..desistindo de desejar..desligando sensações..acertando o pensar..constatando pensamentos..ouvindo a cabeça..esticando o peito..empurrando ninguém..fechando a flor..exercitando o ventre..

sábado às 3..
sozinha por inteiro..abrindo a multidão..encolhida no ar..encontrando a luz..esquecendo de viver..revirando o pescoço..excitando a dor..

sábado..
sozinha na cama..sentindo o ventilador..dividindo travesseiros..desistindo de estar...

3..
 sozinha..escrevendo..dormindo.. ( )


17 abril 2010

atriz?














Ela vive de viver a vida dos outros
isso não é brincadeira
é profissão
ganha bem por isso
a recompensa vem com a presença de cada vida ocupando a sua...questionável

Ela vive de viver a vida dos outros
isso não é brincadeira
é defesa
ganha bem por isso
se esconde de sua vida inquestionável e se ausenta do compromisso de saber

Ela vive de viver a vida dos outros
isso não é brincadeira
é medo
ganha bem por isso
foge da certeza da ausência de cor e busca no papel (em branco), a presença delas

Ela vive de viver a vida dos outros
mas não vive nenhuma
passa por todas como ouvinte, ausente, assistente
seca as lágrimas secas e dirige as cenas seguintes

Ela vive de viver a vida dos outros
mas cansou de todas elas
constata que viver não é existir
ela tenta existir dentro delas
sem saber se encontrar

Ela vive de viver a vida dos outros
mas todas elas já foram escritas
a única que continua em branco é a sua
falta texto, sobra improviso

"Era uma vez uma menina que queria saber
queria tanto saber que, na dúvida do que ser
resolveu viver a vida dos outros
achando que assim seria".

Ela vive de viver a vida dos outros
mas seu tempo acabou
percebe que só continuará vivendo outras vidas
se deixar a sua existir. ( )

31 março 2010

"click"

De repente todos os porquês somem e dão espaço ao
Por quê não
Todas as portas fechadas viram
Passagem
Todo não vira
Certeza
Toda dúvida vira
Consentimento
Todo desencontro vira
Ocasião

Desaparece o medo
Surge o sorriso
Foge o pranto
Seca o espanto
Muda o som
Troca o ruído
Volta o chão
Cresce o sentido
Nasce a luta
Adormece a conduta
Permanece a vida

De repente você acorda
Decide não se acostumar
Desiste de  desistir
Esquece de esquecer
Começa a viver

"click"! ( )

25 março 2010

BoBices de BoBos aBoBalhados














 Bobo é aquele que ri à toa
que não pensa no que diz

Bobo é aquele que não se entende
que sem saber se faz entender

Bobo é aquele que sente
que se emociona com a vida dos outros

Bobo é aquele que chora
que vive o hoje e o agora

Bobo é aquele que abraça
que esquece do tempo sentado na praça

Bobo é aquele que beija
que morde os lábios e quebra os dentes

Bobo é aquele que volta
que joga as pedras e não perde o caminho

Bobo é aquele que escuta
que fala muito e se cala

Bobo é aquele que sonha
acordado

Bobo é aquele que se irrita
que bate o pé e grita

Bobo é aquele que ama
que abre os olhos e deita na cama

Bobo é aquele que é feliz
que faz bobices abobalhadas para alegrar uma atriz. ( )


23 março 2010

consonância X dissonância


aquela felicidade poderia durar uma noite inteira
aquele lamento cessaria na quarta-feira
ecoaria no domingo
com trilha sonora de chorinho e sonoridade de fim de tarde
cheirando à molho de tomate

o aprendizado seria ligeiro
a pouca idade carrega uma longa bagagem
uma vida de (des)ilusões
de concreto sob cimento mole
queimando
derretendo
oscilando entre a sola e a borracha


a obstinação seria inevitável
o decreto confirmou a vulgaridade
sólido
líquido
espesso
macio
ácido
tórrido
nítido

não sabia se permitir
não se permitia receber
trocava de roupa de acordo com a temperatura da estação
antes mesmo de puir
antes do sol secar o frio
já não agradava a sua textura

a correspondência se tornou incorrespondida

a música se repetia
o tom não se alterava
a voz já não calava
o compasso se imortalizou
a partitura queimou os pés descalços
o som se solidificou

à meia taça
à meia luz
à meia lua
com meios ausentes
pensamentos inteiros
frequentes, recorrentes, dissidentes

evitara o irrecusável
e u
fugira do irremediável
t u
buscara o inalcançável
e l e
concluíra o infindável
n ó s

 se tornara mais Homus
desacreditado de sua espécie
exibira mais garras
atordoado por suas expectativas sutis
decretara mais taras
despovoado por sua própria presença


viver já não era primordial
acreditar parecia suposição
sentir se atrelava à objeção
sonhar, uma doce ilusão

amar...
...uma eterna questão. ( )

15 março 2010

gut



Porque ele me incentiva
me permite voar
Porque ele me proporciona
me induz a sonhar
Porque ele me alimenta
me envolve sem pensar
Porque ele me assegura
me sorri ao chorar

Meus dias se tornam mais quentes
minha solidão mais ausente
minha voz mais estridente
quando ouço o telefone tocar

Quero contar o meu dia
transbordar minha alegria
exibir minha coreografia
sempre que escuto sua voz a me ninar

Meu pai, meu chão, meu tio querido
o que seria de mim sem o teu contemplar

Meu exemplo, minha alma, meu maior amigo
quero viver ao teu lado até o sempre bastar. ( )

07 março 2010

Carta à Filhinha


As coisas por aqui não são muito fáceis sem você.
Desde que partiu sem data de regresso tudo ficou um pouco vazio...superficial.
Seus pertences estão intactos. Seu espelho continua brilhando. Sua cama ainda é branca e seu armário guarda bilhetes pequenos e felizes com papéis hoje um pouco amarelados, descolando nas pontas.
Suas roupas não seguem mais a moda, mas eventualmente se modernizam. 
Seus amigos amadureceram. Alguns até demais e já não retornam às reuniões festivas dos sábados de jogatinas.
O mundo se modificou. As pessoas não conversam mais. Pouco se olham. Inventaram a internet para que esse contato se encerre e se estabeleça a desordem dos desenganos.
Os pombos-correio se aposentaram. As mulheres se rebelaram. Os maridos se calaram. O globo está de cabeça para baixo.
Quando voltar, se um dia ainda tiver vontade de voltar, irá sentir muita diferença do tempo que permanecia serena nesse povoado acolhedor. 
Irá sentir muito frio e muito calor. A neve está derretendo e o sol congelou. O mar não está mais batendo e os rios estão cobertos de peixes...boiando a discórdia apodrecida.
Mas seus filhos sobreviveram. Permanecem intactos em seus mundos paralelos. Eles não se abalam e o céu pode cair aos seus pés que ainda será carnaval.
A única que ainda escuta rumores é a minha ilusão. Penso todos os dias naquela tarde chuvosa e calorenta, povoada de pouco espaço e preenchida de escuridão.
Voltarás?!
Não me leve à mal...não quero ser responsável por proporcionar um bloqueio em seus planos celestes. 
Por aqui não existem mais seres de nossa espécie. Eles evoluem, casam, descasam, se arrastam sobre a correnteza errante e caem na mesma célula. A que gerou nosso desengano.
Já que não volta, espera por mim?
Penso que ainda tenho compromissos inadiáveis por aqui, mas as necessidades me consomem e a ansiedade me aflige.
Sinto sua falta.
Você é a única que me escuta, e no entanto, não posso te sentir.
A contradição entre o toque e o desapego me corrói por inteira.
Escrever é o meu maior remédio...soluçar é minha única opção.
O silêncio me preenche e sufoca meus sentidos.
Sua ausência me esvazia. Sua referência me motiva. Sua hitória me faz querer ser alguém que nem sei. Alguém melhor do que sou. Que não conheço. Que vou me orgulhar de ser um dia.
Até sempre.( )

01 março 2010

mente.casual













ela pensa no pensar
nas horas de sono perdidas
nas teclas abreviadas

pausa

acende um cigarro
parou de fumar na semana passada
continua tentando verbalizar seus pensamentos

pausa

prepara um chá
maçã com canela
boa pedida para a queda de temperatura naquele fim de tarde
segue pensando, ouvindo seus próprios susurros surdos

pausa

o pensamento seca
sem nem hidratar os fios finos descoloridos
as unhas arranham a superfície áspera e quente
as mãos envolvem a outra ardentemente
sugere pensar em música
passos largos deslizam no descompasso desritimado

pausa

ela pensa demais
quando viver já terá pensado pensamentos tolos
bobos
atrevidos
exaltados

pausa

ela pensa de menos
quando sonhar já terá resistido e cessado a ansiedade
a covardia
a nostalgia
a juventude
a inquietude

pausa

o que ela será?
especialista em um pensamento
sonhadora generalizada
delirante depravada
sedutora obcecada
menina mimada
mulher atormentada
transeunte acelerada
amante amada


pausa

o pensamento virou poesia
dessas de se viver... ( )

20 fevereiro 2010

velho garoto

ele me carregou no colo
atou minhas feridas
presenteou minhas alegrias
meus sorrisos
minhas desilusões
sofreu com minhas despedidas
vibrou com minhas vitórias
se casou com minha jóia
gerou mais duas
é o rei de todos nós
meu céu
meu chão
meu tudo
pai
avô
mestre
guru
santo pecador
cometeu os erros que a vida impõe
acertou acertos que poucos acertam
gerou luz
gera luz
salva
cura
espalha alegrias
exala satisfação
e m a n a 
r i q u e z a s 
que poucos conhecem
esse mundo mundano se prepara
constantemente
para receber dons
já conhecidos
vividos
experenciados
por esse velho garoto
de 80
com sede de vida
fome de alma
cheiro de despedida
vitorioso por saber
que a vida
é pra quem sabe viver
e ele vive
eternamente
plenamente
intensamente
e eu sigo seus passos
tortos e tortuosos
com esperança de ser 
uma pitada desse ser
uma poeira de luz
no meio desse clarão que é
esse 7
esse garoto
esse menino maroto
esse velho vivido
esse meu avô querido. ( )

11 fevereiro 2010

flor, margarida

A margarida acordou sobressaltada
perdeu a hora do trem
o trem partia às 7
com a bagagem de suas dúvidas
e a chegada de sua satisfação

A margarida resolveu pedir
alguma coisa deveria acontecer
aquele trem deveria esperar
ouvir
sentir
abraçar
a sua partida não poderia se realizar
com a margarida a chorar

O trem ouviu os seus apelos
acalmou os seus passageiros
e disse que não partia sem a sua maior alegria

Mas o trem era só um mensageiro
feliz pelo seu papel
alegre por sua função
traria de novo o sorriso no rosto
de uma margarida apaixonada pela partida

Seu destino seria breve
mas seus planos mudaram
quando em sua cabine
encontrou uma flor maior que seu amor pelo instante

Partiram juntas nesse mundo errante
enfrentaram discórdias
desavenças
e encontraram, na balança incoerente
um peso quase ausente
leve e crescente
de um amor bobo
desobediente. ( )

04 fevereiro 2010

Paris, Paris

será que eu encontro em Paris

uma baguete
uma mona lisa
um vinho tinto
uma torre eiffel
uma bicicleta
um molière
um cheiro
o amor

um motivo
 para não mais voltar

e uma violeta feliz?! ( )

31 janeiro 2010

tapanacara

ei menina
seu tempo acabou
vai sonhar até quando?
vestir as roupas de sua mãe e usar aquele batom vermelho que te envelhece, amadurece
subir na montanha em dois passos
descer em um pé
dar cambalhotas na areia
ir à praia em plena quarta-feira
ouvir a hora do brasil sem se afetar
acordar ao meio dia
dormir no início do outro
beber mais do que aguenta
cuspir menos do que devia
cheirar suas lamentações
chorar suas limitações
flertar com o seu ego
fumar a sua alma
negligenciar suas oportunidades
proporcionar esperança em corações
sabotar o seu próprio, murcho, de tanta ausência
sobreviver aos ataques de insetos famintos, sedentos, oportunistas, que se apropriam de sua ansiedade
beijar a morte
dançar a vida
devolver a sorte
entregar a despedida
seguir em frente
ou parar na primeira esquina aconchegante, com ralos soltos transbordando lama e lamentações
reaja
evolua
encare
supere
respire
lute
grite
desconfie do conforto
duvide da alegria
aceite a felicidade
receba o amor
drible a dor
revigore as energias
c  u  r  e
se cure
se segure
se aceite
se ame
delicadamente
gentilmente
assustadoramente
a vida foi feita para os fortes
"onde os fracos não tem vez"
vê se aprenda de uma vez. ( )

26 janeiro 2010

da janela...



Todo dia eu observo aquela menina da janela
O que será que ela faz?
Por onde será que ela anda?
Quais serão seus medos? Seus desejos?
A janela sem cortinas faz a minha imaginação voar pra longe... pra bem perto dali...
O vento bate e o sino toca tocando a minha atenção...
Queria estar lá... conhecer seu mundo...saber o que ela escreve...o que ela lê...o que ela estuda...por quem espera...por quem sofre...
Será que ela sofre?
Está sempre sorridente... seu sorriso me acorda e me faz dormir...
Mas seu grito ensurdece... estremece...me amedronta...me preocupa...me instiga..
Por quem ela sofre? Sofre por quê?!
Essa menina tem tudo... uma janela com vidros limpos, flores, sinos e a felicidade presente...verde, viva...presente de alguém muito especial...alguém não mais presente e jamais ausente...
O que ela espera?
Será que ela espera enxergar a vida através da janela? Ouvir o ruído da rua? Sentir o cheiro da chuva?
Será que ela espera me conhecer? Sem saber?!
A vida se encarrega de promover esses encontros...
Não sei bem quem sou... posso ser qualquer um querendo um querer
Conhecer essa menina... mulher...moleca
Sorridente
Firme e às vezes ausente
Guerreira e insistente
Sensata, inconseqüente
Borboleta
Transparente
Independente
Impaciente...
Espero que ela espere...
Sua hora chega... ela vê...ela sente..
Espero que ela nunca se lembre das cortinas que cobrem seus encantos e sua privacidade, tirando a minha fantasia de assistir seus sonhos se tornarem realidade. ( )

21 janeiro 2010

.interrompido.continuado.


será que se tem esse direito
de tirar do peito
o que pulsa satisfeito?

o corpo não preenche
o órgão já não enche
o vazio tomou lugar

o silêncio se estabelece... 

buraco nú
gemido fino
presença ausente

o coraçao ainda toca
mas a semente não germina
o recipiente despovoado

o uivo ecoa
a culpa perdoa
o ato de (pré)ver...prevenindo

a água cai
a luz seca
a brisa toca

a  c  a  r  i  c  i  a

mas logo minha menina germinará

poderes
controles
sorrisos molhados
impulsos saltados
mordidas perdidas
lado a lado
eu e ela
até perder de vista
todas as manhãs
despertadas com lambidas. ( )



17 janeiro 2010

..caminhando sob o sol..


..ele sabia que poderia não estar..
mas estava ali.
..que talvez o vermelho não estivesse tão vivo
mas permanecia vermelho, rosado.
..que o fogo não estava tão seguro da altura de suas chamas
mas ainda queimava
..que o mar proporcionava ondas fortes, intensas, transformadoras
mas também sabia virar rio com carneirinhos vindos do sudoeste
..que as pedaladas ainda eram de menina insegura
mas o sorriso nos olhos trazia esperança e as raízes, trepidações
..que o sentimento existia
ainda que inseguro de ser
..que a tolerância era zero
mas tinha uma enorme vontade de ser 1, 2, 3, 7
..que a luz era violeta
mesmo que às vezes um pouco acinzentada
..que a vontade era de cultivar
mesmo que cativando em etapas
..que o sorriso era sorriso bom
mesmo que leve, na ponta dos lábios, olhando de lado
..que o sorriso era sorriso inteiro
com uma esperança esparançosa de ser eterno.
..que o caminho era de sol
caminhando...
descobrindo..
desvendando..
desejando..
necessitando..
ressurgindo..
pedalando..
amando..
sorrindo..( )

14 janeiro 2010

..Deus de Clarice..

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar. (CL)

12 janeiro 2010

um ser só


um ser só
acompanhado de dúvidas
questionamentos
presenças

um ser só
acompanhado de medos
desafios
ausências

um ser só
acompanhado de certezas
comprometimento
vitórias

um ser só

só um
um de dois
dois de mais
acompanhado de um ser
um ser sozinho
ausente
carente
insistente
independente
diferente de só
convincente no um
sorridente em ser. ( )

05 janeiro 2010

..linguaruda..




"Porque há o direito ao grito
então eu grito."
...esperei muito tempo para gritar
agora grito sem parar...

que meu grito
penetre
cure
abra caminhos
seque
pare de cegar
realize
estabeleça
não  resolva
mas me faça esquecer
crer
viver
dormir leve
sorrir
sorrir
sorrir
...
( )



perdão..

se te fiz acreditar
sonhar acordado
dormir acompanhado

se te fiz pensar em infinito
ver um mundo mais bonito
achar tudo esquisito quando acendia a luz

se os dias ficaram mais compridos
os muros mais coloridos
postes floridos
e janelas abertas para a noite chegar

se a caixinha foi completa
mas voltou semi-aberta
com um fio fino e escorregadio

perdão..

se te fiz sofrer
e estremecer
permanecer
viver momentos sem começo e fim
e sorrir pra mim
sorrisos livres, radiantes

e n e r g i a

se o amor te fez crer
crescer
abastecer um coração batido e acelerado

se a vida nos cercou
nos presenteou com momentos
curtos e doces
breves e salgados

se a ponte se alongou
e a escada não alcançou
os degraus frágeis
curtidos

se a rua nos conectou
proporcionou coincidências
desabrochou um novo querer

ela pode agora nos guiar
e levar a algum lugar
onde os cantos se cruzem
mesmo que paralelos
singulares

e o instante surgirá
e alcançará o topo da felicidade
sem descer em alta velocidade
se perdendo em faces alheias

acordar
perceber
sumir
viver
voltar a sonhar
sonhos compartilhados
solitários
contando contos cantados
lembranças do que não viveremos mais.

perdão..

se a dor já não cabe no peito
se a saudade tomou proveito
e ocupa o lugar do sorriso satisfeito

essa dor me pertence
e quero de volta pois sou a proponente
dos projetos individuais
dessa história sem fim

e se o fim resultar em monólogo
rogo pedidos para que seja breve
e que assim nos leve
ao encontro de outros roteiros
que ilustrem
iluminem
colorido
as próximas fotos de nossas cenas da vida. ( )