01 fevereiro 2015

Assisti o filme LIVRE hoje e saí engasgada...
O desengasgo...

E quando percebi que se aproximava o fim daquelas duas horas de nó e engasgo de um propósito ainda não identificado...as letras se embaralharam sem nitidez e o foco se tornou múltiplo. Havia chegado o fim. E a única atitude que consegui tomar foi ir num passo ao banheiro, controlar as lagrimas que pulavam abusadas por dentro dos óculos embaçados, esperar inquieta a minha vez, entrar em um pé e trancar noutro a trava de segurança do distanciamento do mundo. Era tudo que eu precisava. Me aproximar de mim e viver aquela dor doída que eu ainda não sabia identificar a origem. Precisava acessar alguma vida anterior...ou talvez ela já estivesse desperta em minha vida presente mas minha consciência esmagava meu peito e apertava cada vez mais minha garganta.
Chorei.
Chorei como nem sei. Como uma criança que perde seu cão, seu primeiro amor.  Como uma adolescente que desabrocha sua primeira decepção, como uma mulher que se dá conta de que ainda não se achou.
Um choro mudo, sem um único ruído. Em câmera lenta, desfrutando cada contração muscular facial. Um choro de encontro e saudade. Um rompimento e renascimento.
Sentei dentro daquela cabine pública e chorei a minha maior privacidade privada.
Percebi ao absorver a história daquela mulher, que existe um monte de mim que ainda me é inacessível...intocável. E foi justamente essa parte que chorou! Não a parte que acha que se conhece, se supre, se ouve, se basta. A parte que ainda dorme. Que acordou hoje.
Foi assolada por um conto de uma vida real, por uma semelhança de um desconhecido comum exemplificando minha maior ausência diante da minha presença.
Livre.
Foi tudo que não senti ao sair daquela caixa iluminada, mas pelo contrario senti que a maior parte de mim se esconde atrás de alguém que ainda nem sei quem é. Alguém que almejo ser sem saber. Alguém que admiro sem saber ainda porquê.
Sai suspensa, intensa, imensa, sem sentir meus pés no chão e minha visão ao redor. Com o foco alargado e ao mesmo tempo irreal.
Vaguei pela rua respirando o ar rarefeito que se formou a partir de todos os entãos sem saber ainda quantos porquês serão necessários para tentar minimamente começar a caminhar na direção desse alguém que descobri que existe.
A metade livre que se basta dentro de mim.
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