31 maio 2010

Será que eu posso?!

Entrar na sua vida
causar uma revolução
te deixar de pernas viradas, torcidas
esperar sem despedida
pegar na sua mão

Cochilar no seu colo
sentir o seu peso
chorar escondida
voltar resolvida
me recompor pra te ver

Acender um cigarro
beber o último trago
degustar a entrada
sair sem pagar a conta
te esperar pra jantar

Andar pelada nas ruas
me encantar com frases tuas
suportar a ausência de acentos
sufocar meus sentimentos
acordar sem dormir

Fazer piadas sem graça
sentar sozinha na praça
jogar fora meus desenganos
compartilhar meus planos
inventar histórias que te façam sorrir

Tomar banho de porta aberta
ser cautelosa, discreta
desafinar no chuveiro
me entregar por inteiro
sentir saudade sem partir

Viver hoje  todos os dias
beijar sua boca sem parar
te admirar sem piscar
querer o amanhã sem culpa
me apaixonar por você.

Posso querer?! ( )

21 maio 2010

Conto Real











Ela achava que não devia
que se arrependeria
que sorria com os dias contados
Sua mãe sempre alertava
indagava
subestimava sua capacidade de sentir
jogava o seu balde de pedras quentes em sua pele fria
petrificada pela vivência
do corpo aquecido pela ausência solidificada
Ela devia desistir?
sair
sumir
jogar fora o sorriso e dar lugar à imprecisão
precisa
Ela precisava esquecer?
sofrer
adormecer
não se deixar envolver
almejar acordar no conto de fadas que nunca desejou
Cansou de desejar
esperar
vibrar
"Os príncipes não existem mais", sua mãe dizia
e as princesas desistiram de dever...
se tornaram bruxas desacreditadas dos sapos encantados
se contentam com desencantos
se alimentam de chocolate
amargo
cortam seus cabelos para trançar a desunião
se esquecem de dormir à meia noite
de calçar sapatos de vidro
de cantar para encantar o mar
se perdem de si mesmas no meio da floresta
se alimentam de frutas vermelhas envenenadas pelo excesso de querer
desistem de acordar
sonhar
desencantar o descontentamento
Ela iria ouvir?
acatar
executar
profetizar os conselhos desajustados
de uma mãe ausente de encanto
Ela não acreditava em príncipes
nem fadas
nem princesas
nem sapos
nem castelos de vidro..
Acreditava no Conto
no seu conto
Real
e se encantava com sorrisos
de pessoas presentes
bobas, sorridentes, encantadas. ( )

15 maio 2010

virtualmente palpável

a poesia se sustenta
suporta o peso de sentir
aumenta a vontade de querer
ilude a sensação do existir

a palavra que se escreve quer dizer
a voz desmente
o toque surpreende
o encontro promete prometer

o desejo evidencia o impulso
a coragem acompanha o olhar
invade o espaço
corrói a ilusão

ser um ser
viver o hoje
sustentar a decisão
vida. dupla. elo. só. somente. só.

personagem da vida
palpável
personagem da vida
virtual

qual delas é real? ( )

09 maio 2010

Naquela manhã o telefone tocou como nunca tocara antes...Do outro lado da linha a voz, leve, contínua e firme se pronunciou:

- Estou partindo. Na verdade, já parti. Não sei se percebeu...A bola caiu...

A bola sempre cai, se não tivermos a rapidez de receber...e devolver.

- Sou especialista nesses jogos de rapidez. Demorei muito tempo para aprender. Venho treinando ao longo desses anos.

Esse jogo requer querer...querer poder...poder querendo...podendo perder.
Se trata de um jogo simples: basta jogar. Agarrar. Reagir. Retribuir.
Sonhar.
Sonhar com os olhos abertos.
Nunca se sabe quando a bola vai chegar. Tem que estar preparado para arremessar.

E a voz leve, forte e contínua virou movimento: Direto. Acelerado. Breve. Pesado.

- Vou jogar bola por aí. Bater na testa e sorrir! ( )