28 dezembro 2010

aiê oxum

 o dia era de agradecer
toque das águas
aquecer das pedras
presentear das trilhas

o caminho era só de subir
passo em falso atento
sorriso apreciado
chão, som, o sol escondido

um olhar inquietado
curioso
revelado
correspondido

 água viva para refrescar
pra conhecer
agraciar..

o dia era da noite quente
da pintura na tela revelada
do movimento imóvel interpretado
suado

chuva fresca para avivar
pra conhecer
agraciar..
( )

24 dezembro 2010

..de pilha.

..a janela estava aberta, e isso era raro pois a poeira da obra da fachada irritava suas narinas desprovidas de filtros à prova de poeira-fina.
mas o sol estava tão tentador...depois de uma semana de frio, chuva e ausência de luz natural...que a janela se abriu com o consolo de receber, em meio à poeira dos operários desajustados, um foco de brisa...uma faísca de vento...um facho de aquecimento.
em meio ao som ensurdecedor de repiques de martelos, agudos de britadeiras, chacoalhar de pedras soltas caídas ao chão...vinha um som...um som familiar e um tanto quanto desconhecido...um som apropriado de esquecimento conduzido...um som agradável aos seus ouvidos...som bom...só...som.
uma sanfona talvez...tons próximos...palavras frescas...secas...descascadas.
ela arriscou olhar pela janela para procurar de onde vinha aquele som...e, ironicamente, vinha da mesma origem sonoro-poluidora dos operários inoportunos...um radinho de pilha...de pilha.
em meio a toda aquela desordem de gesso, massa e entulhos...parecia que se formava uma serenata para aquela janela...
lixos e retalhos compunham aquele cenário já não mais desconhecido...
era sim...uma serenata...em plena luz do dia...e do calor abafado...e da ausência de músicos e poetas...
só ela e o radinho de pilha...eles se bastavam...
apoiou os cotovelos ressecados no peitoril empoeirado...e contemplou o seu presente imposto pela sua própria imaginação manipuladora. ( )

22 dezembro 2010

romã

o ano passou arrastado e ligeiro..

teve inverno de verão
folha seca de primavera
teve flor que desabrochou
de fina pétala
caule firme
raiz atrevida
folha leve

o ano passou forte e rasteiro..

teve tempestade de furar tempo
brisa fresca pra consolar
teve sol sombra susto escuridão
teve som sonho colo solidão

o ano passou..

teve um, teve dois
teve eu
procurando mim.
teve nós
encontrando sós
teve flor
buscando jardim

passou..

ficou a flor
seguindo
sorrindo assim..
( )

16 dezembro 2010

Era uma vez...

Era uma vez a menina
ela queria mexer o corpo
entender seus limites, pesos, cristas e planos
Era uma vez o passarinho verde
ele queria desenhar cores
lento e forte, leve e contínuo
até ficar grande-alaranjado
Era uma vez dois olhinhos curiosos
vocação, foco e persistência
Era uma vez a maria
clandestina, sorridente, feliz
Era uma vez a má-menina
voz no chão, pés abertos, pesado direto
Era uma vez a aluna
aprendendo a ser atriz
Era uma vez a professora
descobrindo ser feliz. ( )

02 dezembro 2010

BeneDito

Ele disse que suas mãos curam
a energia se propaga
as vibrações se aproximam
a dor vira luz
Ele disse que você pode ser tudo na vida
percorrer seus caminhos
pisar firme no chão
voar sem limites
Ele disse que você receberá calor
o colo para se apoiar
o ombro para chorar
o olhar para sorrir
Ele disse que sua vida não é ilusão
porém a desilusão tomará parte
o vazio estará presente
o amor, por vezes, ausente
Ele disse que você pode vencer
algumas vezes...
menos que o insuportável
mais que o impossível
Ele disse que você deve viver
a desordem dos desenganos
o fracassar dos planos
o limitar dos sonhos
ainda assim, viver
a esperança das horas
o desfrutar do tempo
o lutar do esquecimento
Ele disse que você deve sorrir. sempre. todos os dias. por todas as suas vidas. ( )