Nasceram na mesma casa
mesmo quarto, mesmo sexo, mesma cor preferida, mesmo cesto de roupa suja
A diferença de ano era a década que retornava no mesmo mês
mesmo signo, mesmo gênio, mesma fome, mesmo querer
O que diferenciava era o tempo
quando se lê o que se gosta
quando se come o que se espera
quando se chora o que não engrossa
quando se ama o que se tolera
Chegaram a brincar juntas até
mesmo que com a intolerância da primeira e a curiosidade respeitosa da que veio depois
entendiam-se
afinal, compartilhavam a mesma brisa da janela, mesma quebra de luz, mesmo sol da manhã
Cresceram
uma era moça já, e apresentava o corte de asas antes mesmo de criá-las
fazendo
do tal arbítrio livre a esperança de libertação, deixando de lado a
menina, 10 sóis mais menina, descobrir seu próprio horizonte da corrente
errante que lhe cabia.
A geografia se encarregou de afastar os ombros-amigos noturnos, os suspiros insones e as manhãs de nebulosidades.
Então duas.
Mulheres já.
Com acúmulo de histórias, mágoas e porquês em questão
Não se reconheciam mais.
Deixaram de lado a crença do sangue e esse mesmo se encarregou de molhar o presente.
Ausente.
De duas.
Mulheres com lembranças crianças
Esquecendo-se amigas
Renegando-se irmãs
Relembrando a mesma terra e esquecendo o mesmo céu.
Perderam
A chance de serem uma em duas mais
Acolheram as emoções e deixaram o amor voar
Pousaram
Cada qual em seu lugar
Esperança é tempo certo que não tarda em contemplar
A hora de duas chega sem que uma sequer perceba
que amor-irmão é receita velha que teima em voltar a andar.
Amaram
uma e duas em segredo sem confessar.
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