23 março 2010

consonância X dissonância


aquela felicidade poderia durar uma noite inteira
aquele lamento cessaria na quarta-feira
ecoaria no domingo
com trilha sonora de chorinho e sonoridade de fim de tarde
cheirando à molho de tomate

o aprendizado seria ligeiro
a pouca idade carrega uma longa bagagem
uma vida de (des)ilusões
de concreto sob cimento mole
queimando
derretendo
oscilando entre a sola e a borracha


a obstinação seria inevitável
o decreto confirmou a vulgaridade
sólido
líquido
espesso
macio
ácido
tórrido
nítido

não sabia se permitir
não se permitia receber
trocava de roupa de acordo com a temperatura da estação
antes mesmo de puir
antes do sol secar o frio
já não agradava a sua textura

a correspondência se tornou incorrespondida

a música se repetia
o tom não se alterava
a voz já não calava
o compasso se imortalizou
a partitura queimou os pés descalços
o som se solidificou

à meia taça
à meia luz
à meia lua
com meios ausentes
pensamentos inteiros
frequentes, recorrentes, dissidentes

evitara o irrecusável
e u
fugira do irremediável
t u
buscara o inalcançável
e l e
concluíra o infindável
n ó s

 se tornara mais Homus
desacreditado de sua espécie
exibira mais garras
atordoado por suas expectativas sutis
decretara mais taras
despovoado por sua própria presença


viver já não era primordial
acreditar parecia suposição
sentir se atrelava à objeção
sonhar, uma doce ilusão

amar...
...uma eterna questão. ( )

3 comentários:

Anônimo disse...

Belo, raro... amor!

Anônimo disse...

no momento penso que amar é se sacrificar.
é querer a felicidade da tua outra metade
por mais que ela seja a tua própria infelicidade.
é fé que tortura.
que faz pensar que vai (re)encontrar
a tua outra metade nas ruas da nossa cidade.
melhor é fumar um baseado...
mas até ele faz lembrar do nosso passado.
realmente o amor não tem jeito,
é um tiro certeiro que deixa um buraco no peito.

do teu,
SMA

A. Le Savoldi�� disse...

Amar é sempre uma eterna questão. Belo texto!

De meio em meio se faz inteiro: eu, tu, ele, nós ;)