26 dezembro 2009

eu, magrela


elas eram as únicas ...
singelas sobreviventes ...
naquele fim de tarde de natal
as casas ainda cheiravam a peru e frutas secas
o barulho dos papéis de presente ecoavam sobre as folhas das palmeiras
em outra ocasião estiveram acompanhadas de um anjo cuidadoso
mas hoje eram só elas duas
deviam dialogar pelas pedaladas seguintes
aro girando, marcha leve e um tapete cinza estendido só pra elas
unidas por um propósito
vítimas de abandonos hereditários
Ganhar o mundo era pouco...
elas queriam descobrir o que não era pra ser revelado
desfrutar do que não podia ser desperdiçado
andaram lado a lado por um bom tempo
recordações, memórias, vivências
coração acelerado
subitamente o desejo se transformou em necessidade
queriam ser uma só
caminhar juntas, desvelar segredos
trair a solidão com a presença sentida
descobrir os caminhos de pedras e os percursos macios
corpo tremido
desequilibrado
foco desfocado
paralelas curvas, curvas tortas
direita, esquerda, direita
Freio
peso parado, de lado
pés no chão
os segredos ficaram pequenos e o tapete cinza não tem mais fim
os fios sobressalentes fazem cócegas na ponta do nariz
é o início do começo


Ganhar o mundo era pouco... ( )








2 comentários:

Alê Braga disse...

Era uma tarde de Natal. Em uma pacata rua ele caminhava, pensando na vida. De vez em quando a gente aproveita estas datas pra pensar na vida... Em meio a árvores enfileiradas, de repente surge uma visão. Uma mulher linda, cabelos caindo no rosto, e com brilho nos olhos por estar simplesmente pedalando e descobrindo. Simples demais - apenas um passeio de bicicleta de uma menina... Mágico demais. Estar ali era um presente.

Se ele estava mesmo ali? Os mais objetivos diriam que não. Mas sempre que reler este texto ele vai estar ali... no início do começo. Tentando ganhar o mundo.

Alonso Zerbinato disse...

A cabeça na relva úmida do sereno, as pernas cruzadas e o céu colado na ponta do nariz. O teto azul e cintilante da cidade dos bons ares, considerado um dos mais bonitos do planeta, cobre o sorriso da criançada que corre solta, os inúmeros banhos no lago gelado, os confortantes e confortáveis colos-de-mãe (colo de mãe deveria ser escrito assim, juntinho, pra ilustrar fielmente a sensação), os braços abraçados, as bocas beijadas, o álcool ingerido e as lágrimas derramadas. A felicidade mora lá - e é pra lá que eu vou quando quero ser mais feliz, dançando e ouvindo alguém cantar bonito.